sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O amor é geográfico

Era qualquer coisa para o meio-dia na Rua Passos Manuel. A Joana corria e fugia do sol e eu atrás dela. Descansámos os corpos nas escadas do Coliseu e ela abriu a garrafa de água para dar dois valentes tragos. Eu fixei tanto o olhar nos seus lábios enormes que me desfocaram as vistas e se me escapou um "tu eras a solução". Outra vez, em Coimbra, procurava o carro numa das ruas que circundam a universidade quando me ultrapassou, em passo largo, uma égua loira. Era linda e grande. Tinha pernas lindas e grandes. Ia ao telemóvel e falava estrangeiro. Não haveria problema para nós porque eu também sei falar estrangeiro. Lembro-me de pensar o quanto gostaria de jantar com ela. Não chegámos a jantar mas não deixei de jantar nesse dia em particular e, habitualmente, nos outros em geral. Numa outra vez, e novamente no Porto, conheci uma mulher que gostava de Joanne Harris e dizia aquilo como se eu não conhecesse Joanne Harris e, por isso, ela teria legitimidade para me informar acerca da alimentação sempre presente nos livros de Joanne Harris. Nunca lhe disse que conhecia e, por sinal, odiava Joanne Harris. Que era literatura barata de cordel, uma fórmula fácil para leitoras fáceis e que escritoras como a Joanne Harris deveriam, afinal, morrer violentamente. Em todo o caso, e por breves momentos, estive perdidamente apaixonado por aquela mulher.

1 comentário:

  1. A geografia do amor é dolorosamente desarticulada e igualmente voraz diante de uma ausência tão presente.

    ResponderEliminar