segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O pombo e a andorinha

Um pombo e uma andorinha. Um pombo e uma andorinha: seriam os protagonistas da mais improvável história de amor, não fossem, na realidade, os protagonistas de uma bela e - como verá o leitor em breve - trágica história de amor. Era um pombo com doenças de pombo. Era uma andorinha com voos de andorinha. Conheceram-se por acaso, entre bebidas e amigos em comum. A andorinha perdera o mar fazia meses. O pombo perdera uma perna de pombo fazia meses. Ninguém sabe quanto tempo duram os pombos ou as andorinhas. Bem, na verdade, há quem saiba; mas prefiramos acreditar que não se conhece a duração da vida dos pombos e das andorinhas. O pombo gostava das batatas fritas perdidas nos pacotes de batatas fritas que sujavam a praça. A andorinha gostava de filosofia. O mundo gosta de pombos e andorinhas, mas o mundo nunca estará preparado para conhecer uma história de amor entre um pombo e uma andorinha. Mesmo assim, um dia, começou uma história de amor entre um pombo e uma andorinha. O mundo teve de terminar nesse exacto dia. Foi uma pena, porque o mundo acabaria por gostar da história e a história acabaria por se adaptar ao mundo. Mas acreditemos na força do amor e acreditemos que a história precede o mundo. A bem da verdade, e mesmo sem mundo, o pombo e a andorinha amaram-se para lá do mundo, no céu. Não, não é uma metáfora. Amaram-se no céu, voando constantemente, sem chão onde poisar, aguentando com as asas o seu amor. Infelizmente, os pombos e as andorinhas são espécies frágeis, como os homens ou os leões, e nem todo o amor do céu lhes deu força nas asas que aguentasse o tempo. Cansaram-se das asas e cansou-se o amor. Como o amor do mundo. Como o amor dos homens ou dos leões. Como o amor.