quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Um poema pós-moderno

Ah!
Caralho,
queimei-me.

A puta da cevada
assim quente
não se bebe.

Vou deixar arrefecer.

Já não deve
estar quente.
Vamos ver.

Ah!
Caralho,
queimei-me.

A puta da cevada
quer matar-me.

A culpa é das tensões
que me proíbem
o café.

O meu coração
é fraco
e falta açucar
que arrefeça
a vida e as merdas.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O amor é geográfico

Era qualquer coisa para o meio-dia na Rua Passos Manuel. A Joana corria e fugia do sol e eu atrás dela. Descansámos os corpos nas escadas do Coliseu e ela abriu a garrafa de água para dar dois valentes tragos. Eu fixei tanto o olhar nos seus lábios enormes que me desfocaram as vistas e se me escapou um "tu eras a solução". Outra vez, em Coimbra, procurava o carro numa das ruas que circundam a universidade quando me ultrapassou, em passo largo, uma égua loira. Era linda e grande. Tinha pernas lindas e grandes. Ia ao telemóvel e falava estrangeiro. Não haveria problema para nós porque eu também sei falar estrangeiro. Lembro-me de pensar o quanto gostaria de jantar com ela. Não chegámos a jantar mas não deixei de jantar nesse dia em particular e, habitualmente, nos outros em geral. Numa outra vez, e novamente no Porto, conheci uma mulher que gostava de Joanne Harris e dizia aquilo como se eu não conhecesse Joanne Harris e, por isso, ela teria legitimidade para me informar acerca da alimentação sempre presente nos livros de Joanne Harris. Nunca lhe disse que conhecia e, por sinal, odiava Joanne Harris. Que era literatura barata de cordel, uma fórmula fácil para leitoras fáceis e que escritoras como a Joanne Harris deveriam, afinal, morrer violentamente. Em todo o caso, e por breves momentos, estive perdidamente apaixonado por aquela mulher.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Por exemplo (VI)

Os gatos, por exemplo, que Deus os perdoe.

Inolvidáveis (III)

Sílvia Alberto

Jane Birkin

Janis Joplin

 Manoela Sawitzki

Megan Fox

Do Outono e outras coisas

Estávamos todos a discutir o amor e isto e aquilo. Que o amor é um espaço vazio, que metemos outra pessoa lá dentro só para preencher o vazio, que o amor justifica o sofrimento, que o amor não precisa de ninguém, nós é que precisamos dele, e isto e aquilo. Estávamos todos a discutir a vida e isto e aquilo. Que a vida é uma caixa, que a vida dura para sempre, que a vida é o que acontece entre dois cigarros e isto e aquilo. Estávamos todos a discutir a democracia e isto e aquilo. Que o teu voto não conta, que o presidente vai nú, que o Estado é de direito ou é só flanqueador e isto e aquilo. Estávamos todos a discutir a traição e isto e aquilo. Que é animal, natural, cordial, que adoramos mulheres com um belo par de beleza interior, que trair é iniciar uma relação melhor, que o sexo ocasional é sempre à primeira vista, que a mulher dos sonhos nunca nos acorda e isto e aquilo. Estávamos todos a discutir isto e aquilo enquanto, lá fora, as castanhas espreitavam dos ouriços que o Outono roubou das árvores.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Mas não morreu

Ele gostava de mulheres que fumam. Também por isso, de manhã, rasgou os pulsos. Primeiro o direito, com a lâmina de barbear na mão esquerda. Depois o esquerdo, com a lâmina de barbear na mão direita. Doeu muito mas não morreu. Ainda de manhã, atou o cabo da televisão à estrutura do polibã, pendurou-se pelo pescoço e saltou da pilha de livros que o elevara. Doeu muito mas não morreu. Depois de almoço, saltou da ponte rumo ao rio. Doeu muito mas não morreu. Pela tarde, apontou a arma ao queixo e disparou. Presume-se que tenha calculado mal e, apesar de doer muito, não morreu. Ao final da tarde, bebeu hidróxido de potássio e jura que pensou ser assim. Lamentavelmente, doeu muito mas não morreu. À noite, desistiu. Doeu muito. 

segunda-feira, 1 de novembro de 2010