quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Promessa

Ele, um dia, faria o tempo voltar atrás. Aos tempos em que foram felizes. E fodia tudo outra vez.

Inolvidáveis (V)

Violante Placido

Reza

Entra, e livre e orgulhosa, sê a dona da minha casa. Descasca as minhas batatas, mata o meu mais saudável cordeiro e prepara a refeição de Domingo. Enche-me a banheira, lava-te nela sempre que quiseres, e perfuma o teu corpo a nossa cama todos os dias. Pare os meus filhos, chama-lhe teus filhos, educa-os e educa-me um orgulho paternal. Reza. Pede a Deus por mim e por ti. Poupa o dinheiro que te dou. Gasta apenas o essencial. Estima-me os sapatos. Vinca-me as calças. Colecciona moedas gordas que nos pagarão férias na praia. Muda o mês no calendário, marca os dias importantes, conta-me as rugas. Leva-me ao médico. Recorda os meus exames. Muda os lençóis da cama e proíbe-me o açúcar no leite. Arranja o cabelo ao sábado, alisa o corpo, pinta os lábios. Abre as pernas, finge que gostas, diz-me que é bom. Entrelaça o teu braço no meu, endireita as costas, passeia-me na praça. Pergunta-me pelo Benfica. Muda a cor aos cortinados, não deixes morrer as plantas. Deixa-me ir primeiro, prepara-me para o chão. Certifica-te que já cá não estou, que não sai ar da minha boca, que os meus olhos imóveis. Enterra-me fundo, ao lado dos meus pais. Fica por cá mais uns tempos. Apruma o meu jazigo com uma flor bonita, uma vez por semana, meu amor.