sábado, 13 de outubro de 2012

As aves mensageiras

Este espaço, antes de se decidir como "A Doença do Século", esteve para se intitular uma série de outras coisas, sendo uma delas essa mesmo: "Uma Série de Outras Coisas". Outro dos títulos possíveis abordava, de forma menos séria do que a seriedade que realmente lhe dou, um assunto polémico: o fim do mundo (o título em causa era, na altura, "O Mundo Acabou Faz Tempo").
Há, como sabem, um fenómeno anual que junta milhares de aves em regresso do período de migração. Nesse momento de regresso, e geralmente sobre um manto de água (que pode ser um rio, um lago, um mar) as aves sincronizam o seu vôo, dando a ilusão de um imenso véu negro que paira no céu e se molda consoante a vontade do vento. A causa real desse fenómeno foi explicada há vários anos. Nenhuma das aves que constituem aquele manto quer ser a primeira a tocar na água em busca de comida, com receio de elas próprias se tornarem alimento de animais superiores. Assim, esperam que a primeira ave se aventure à água e dite as suas probabilidades de sobrevivência.
O homem, burro e trágico, durante anos acreditou que este fenómeno era um pronúncio do fim do mundo e que as aves eram as mensageiras da desgraça. Durante anos, o dia deste reencontro de aves depois do período de migração foi um dia temido.
O homem, felizmente, é um ser que melhora. Os anos foram correndo, os falsos pronúncios também, e o mundo sempre em pé. Por isso, o homem deixou de acreditar nas aves mensageiras e deixou de temer o fim do mundo naquele fenómeno (passou, porém, a temê-lo noutros). Também eu, com os anos mas sobretudo com a idade, deixei de temer o fim do mundo na mudança de século, o fim do mundo que se seguia a 3 dias de noite constante, o fim do mundo com fogo que caía do céu, o fim do mundo escondido no terceiro segredo de Fátima e todos os fins do mundo do mundo e da vida. Sobretudo, porque a vida ensina que qualquer maneira de morrer é melhor do que morrer sozinho.

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